Representação Espacial e Justiça Social: cartografia como ferramenta política para denunciar desigualdades e garantir direitos territoriais.
A cartografia, muitas vezes vista apenas como uma ferramenta técnica para representar o espaço geográfico, tem um papel muito mais profundo quando analisada sob a perspectiva da justiça social e da política. Mapear territórios é também mapear relações de poder, desigualdades e direitos. Uma prática que pode tanto reforçar exclusões quanto promover transformações sociais.
Historicamente, mapas foram utilizados para consolidar fronteiras, definir áreas de controle e legitimar a ocupação de territórios por diferentes grupos. No entanto, a cartografia crítica e participativa surge como uma resposta a essa visão unilateral, dando voz a comunidades marginalizadas e possibilitando que elas próprias representem seus espaços de forma autônoma.
Nesse contexto, a representação espacial torna-se um instrumento político capaz de denunciar injustiças socioespaciais, como a segregação urbana, a falta de infraestrutura básica em áreas periféricas, a ocupação irregular do solo e a vulnerabilidade ambiental. Mapas interativos, produzidos com tecnologias digitais, permitem que esses dados sejam acessíveis não só para técnicos, mas também para gestores públicos, organizações sociais e a população em geral.
A geotecnologia, aliada ao sensoriamento remoto, drones e sistemas de informação geográfica (GIS), potencializa essa função política da cartografia. Por exemplo, em projetos de regularização fundiária, a cartografia participativa auxilia no reconhecimento legal de territórios quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais, assegurando seus direitos e acesso a políticas públicas.
Além disso, o uso de mapas para planejamento urbano inclusivo é fundamental para combater a desigualdade. Dados espaciais detalhados ajudam a identificar áreas com déficit de serviços, possibilitando intervenções que promovam a equidade no acesso à saúde, educação, transporte e saneamento.
A cartografia como instrumento político também se destaca no monitoramento ambiental e na luta contra a degradação, conectando causas sociais e ecológicas. Mapas que mostram a expansão de áreas desmatadas ou o impacto de grandes obras sobre comunidades vulneráveis são poderosas ferramentas de advocacy.
Por fim, a democratização do acesso às ferramentas cartográficas, com softwares open source e dispositivos móveis. reforçando a possibilidade de participação ativa da sociedade na construção do conhecimento geográfico, fortalecendo a cidadania e a defesa dos direitos territoriais.
Em síntese, a cartografia ultrapassa os limites do desenho do espaço: ela se transforma em linguagem e ação, na qual a representação espacial se torna um agente de justiça social e transformação política.