Geodésia por satélite além do GNSS: o InSAR detecta deformações milimétricas no solo e revoluciona o monitoramento de riscos geotécnicos.
Quando se pensa em geodésia por satélite, o GNSS costuma dominar o imaginário técnico. No entanto, existe uma técnica silenciosa, muitas vezes restrita ao meio acadêmico, que vem ganhando força na engenharia e na gestão de riscos geotécnicos: o Interferometric Synthetic Aperture Radar, ou simplesmente InSAR. Trata-se de um método que permite detectar deformações milimétricas no solo a partir da comparação de imagens de radar captadas por satélites em diferentes datas.
Ao contrário das imagens ópticas, o radar de abertura sintética penetra nuvens, opera à noite e é sensível à distância entre o sensor e a superfície. Quando duas imagens capturadas em momentos distintos são comparadas, a diferença de fase entre os sinais pode ser convertida em deslocamento vertical ou horizontal do terreno. Isso torna o InSAR especialmente eficaz para monitorar subsidência de áreas urbanas, deformações em barragens, taludes, crateras e até efeitos de extração de água subterrânea ou mineração.
Na prática, a técnica exige imagens com órbitas semelhantes (ou “coerência temporal”) e estabilidade do alvo no tempo, o que é mais fácil de conseguir em ambientes urbanos com superfícies refletoras. Com a ascensão de constelações como Sentinel-1, TerraSAR-X e COSMO-SkyMed, o acesso a dados de radar tornou-se mais democrático, possibilitando análises semanais ou até diárias. Empresas e órgãos públicos já utilizam o InSAR em planos de contingência para deslizamentos e colapsos estruturais.
O Brasil, por exemplo, passou a adotar o InSAR na vigilância de barragens após o desastre de Brumadinho, sendo capaz de identificar deslocamentos sutis semanas antes de um possível rompimento. Também há estudos aplicando o InSAR em áreas costeiras, para acompanhar o avanço do mar, e em centros urbanos, para controlar recalques provocados por obras subterrâneas.
O InSAR não substitui o GNSS, mas o complementa de forma poderosa: enquanto o GNSS mede deslocamentos pontuais com precisão absoluta, o InSAR oferece uma visão espacial contínua da deformação. A combinação de ambos: chamada de geodésia integrada, representa o estado da arte na detecção precoce de riscos geotécnicos e no mapeamento de mudanças sutis no relevo.
Num mundo onde os extremos climáticos e o uso intensivo do solo se tornam cada vez mais comuns, ferramentas como o InSAR deixam de ser curiosidade científica e passam a integrar o arsenal essencial de qualquer engenheiro, geotécnico ou gestor territorial atento aos sinais que o terreno dá, mesmo quando eles são invisíveis aos olhos.