Nem toda água subterrânea segue o comportamento “clássico” de um aquífero profundo. Em muitas regiões, o próprio arranjo geológico cria condições para o acúmulo de água em cotas mais elevadas, formando os chamados lençóis freáticos suspensos.
Eles surgem quando camadas ou níveis menos permeáveis — como horizontes argilosos, zonas lateríticas ou contatos litológicos compactos — interrompem a percolação vertical, gerando bolsões de saturação acima do nível freático regional.
Impactos dos lençóis freáticos suspensos na engenharia
Esses corpos d’água, por vezes restritos a poucos metros de espessura, têm enorme relevância para a engenharia geotécnica.
- Em taludes, podem exercer pressão intersticial inesperada, reduzindo a resistência ao cisalhamento do material e acelerando processos de deslizamento.
- Em fundações, funcionam como zonas de recalque diferencial, alterando a distribuição de esforços.
- Em obras subterrâneas, são fontes de surgências repentinas e difícil controle.
Dificuldades na identificação
O desafio é que os lençóis suspensos muitas vezes não aparecem em levantamentos preliminares. Em sondagens espaçadas, podem simplesmente não ser interceptados.
Por isso, observações geológicas de detalhe em campo — como mudanças súbitas de litologia, presença de concreções ferruginosas ou horizontes argilosos contínuos — são fundamentais para sua identificação. Ensaios de permeabilidade localizados também ajudam a reconhecer esses contrastes.
Monitoramento geotécnico dos lençóis freáticos suspensos
Do ponto de vista do monitoramento, piezômetros são os instrumentos-chave para confirmar a presença e o comportamento desses lençóis. Distribuídos em diferentes cotas, permitem distinguir o nível freático regional de níveis suspensos e acompanhar a variação de pressão ao longo do tempo.
Quando integrados a sistemas automatizados, fornecem dados contínuos que podem ser cruzados com séries de chuvas, permitindo prever momentos críticos de recarga.