Em obras geotécnicas, nem sempre o maior risco está no solo mais fraco ou na rocha mais resistente. Muitas vezes, o problema surge justamente na interface entre materiais distintos (Figura 1). Nessas transições, conhecidas como litologias contrastantes, são criadas zonas críticas onde propriedades mecânicas mudam abruptamente, favorecendo concentrações de tensões, infiltração de água e mecanismos de ruptura inesperados.

Figura 1 – Exemplo de Formação Corumbataí e Formação Irati.
Exemplos de interfaces críticas
Um exemplo clássico é o contato entre solo residual e rocha alterada. O solo, mais deformável, pode sofrer recalques ou perda de resistência em períodos chuvosos, enquanto a rocha, aparentemente estável, serve como plano de apoio. O resultado é uma descontinuidade onde se concentra o cisalhamento.
Situação semelhante ocorre em litologias contrastantes, como a passagem de um granito maciço para um filito intensamente alterado, ou de um arenito para um basalto (Figura 2).
O papel da água nas litologias contrastantes
Essas interfaces são ainda mais críticas quando associadas à presença de água. A diferença de permeabilidade entre as camadas pode gerar acúmulo localizado de pressão de poros, criando planos potenciais de ruptura. Do ponto de vista estrutural, contatos litológicos frequentemente coincidem com fraturas, falhas ou zonas de alteração, ampliando sua vulnerabilidade.
Investigação de campo e mapeamento geológico
A investigação de campo é essencial para identificar tais transições. Ensaios de sondagem, amostragens direcionadas e mapeamento geológico detalhado permitem reconhecer os pontos de contraste.
No entanto, mesmo com um bom modelo inicial, o comportamento real só se revela com o tempo.
Monitoramento geotécnico em interfaces críticas
É aí que entra o monitoramento geotécnico: leituras de deslocamentos em superfície, variação de nível d’água ou radar de taludes ajudam a confirmar se aquela interface está de fato se comportando como plano de fraqueza.

Em resumo, não basta caracterizar os materiais de forma isolada. O olhar geotécnico precisa estar atento às litologias contrastantes e interfaces críticas, onde diferentes materiais se encontram e onde, muitas vezes, se iniciam as instabilidades mais desafiadoras.
O monitoramento contínuo é a peça que complementa a investigação, oferecendo segurança adicional frente a essas transições tão comuns quanto complexas.