Descontinuidades na Estabilidade de Maciços Rochosos: fraturas e falhas naturais são vias preferenciais para rupturas e exigem monitoramento
Em taludes escavados em rocha, a atenção costuma se voltar à resistência do maciço como um todo. No entanto, a maior parte das instabilidades observadas em campo não ocorre dentro da rocha intacta, mas ao longo de superfícies de fraqueza naturais: as descontinuidades. São fraturas, juntas, falhas, planos de estratificação e foliações que, em determinadas orientações, formam caminhos preferenciais para ruptura. E são justamente esses elementos que exigem monitoramento atento.


Figura 1 – Características geomecânicas que devem ser levadas em conta para aferir a estabilidade e o comportamento de um maciço.
Mesmo em obras que contam com bons levantamentos geológicos iniciais, é comum que algumas descontinuidades relevantes só se revelem com o avanço das escavações. Sistemas de juntas que pareciam descontínuos podem, na prática, se conectar com persistência significativa. Em certos casos, o plano de ruptura já existe, o que falta é apenas um gatilho, como o carregamento no coroamento ou a infiltração de água ao longo das fraturas.
É nesse cenário que o monitoramento deixa de ser um acessório e passa a ser parte do projeto. Equipamentos como estações totais robóticas e radares interferométricos permitem detectar deslocamentos milimétricos ao longo de possíveis superfícies de falha. A resposta não está apenas em saber que o maciço é fraturado, mas em acompanhar se e quando essas fraturas começam a se mover.
A presença de água, por exemplo, é um fator crítico. Muitos planos de descontinuidade funcionam como condutores preferenciais, permitindo que a água entre no maciço, eleve a pressão de poros e reduza a resistência ao cisalhamento. Um sistema de monitoramento bem posicionado pode captar essas variações com antecedência. E abrir tempo para drenagem, reanálise ou reforço do talude antes que a ruptura ocorra.



Figura 2 – Falha geológica evidenciando um plano de fraqueza (descontinuidade).
Além disso, o monitoramento ajuda a validar hipóteses de estabilidade feitas durante a fase de projeto. Em regiões com geologia complexa ou com histórico de instabilidades, confiar exclusivamente na modelagem ou em inspeções visuais pode não ser suficiente. Medir, registrar e interpretar o comportamento real do maciço ao longo do tempo é o que permite decisões mais seguras.